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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

GUERRA DO PARAGUAI




Por: Aires Humberto Freitas
A guerra que o tirano do Paraguai Francisco Solano López começou contra o Brasil quando em 12 de novembro de 1864 mandou apreender o navio brasileiro Marquês de Olinda com sua tripulação que atravessava o território paraguaio em direção a Mato Grosso; e levava a bordo o Coronel Frederico Carneiro de Campos que tomaria posse do cargo de Presidente da Província de Mato Grosso, foi desencadeada, ainda mais, com a posterior invasão armada dos paraguaios, atacando o Forte de Coimbra. A conhecida Guerra do Paraguai (1864 a 1870) foi um horripilante conflito sangrento com perca de vidas dos dois lados, com batalhas, fome e doenças. Quase aniquilou a população adulta do Paraguai e findou com a morte do comandante Solano López em 1º de março de 1870.



Foi confeccionado uma planta da estrada por onde deveria seguir a cavalaria em direção ao Coxim, tendo ela servido para determinar possíveis informações a respeito dos terrenos, rios, e principalmente estudar o rumo da serra geral (serra do Caiapó).  Vejamos alguns trechos, especificamente relacionando aos rios Verdão e Verdinho:

“Procurei seguir um outro rumo, onde encontrasse melhor terreno e avizinhasse mais a estrada dos importantes distritos de Morrinhos, Campininhas, Abóboras, Jataí, Rio Bonito, etc.  É bem conhecida a importância dessa parte da província relativamente as indústrias agrícola e criadora, e o desenvolvimento do seu comércio com o porto do Coxim; pois, quase a totalidade dos gêneros importados por esse ponto para a província fica espalhada por esses lugares. 

(...)

Do alto da serra do Rio Claro segui a encontrar a estrada que desta capital segue para o Coxim. Nessa viagem atravessei as mais altas vertentes do Rio Claro, seguindo-se a serra geral, passando depois para as águas do Rio Verde grande, afluente do Paranaíba. A estrada faz algumas voltas inevitáveis, passando em geral por bom terreno.

Encontrando a estrada que desta capital segue para a campanha do Rio Verde, passando por Anicuns, a 1,5 quilômetros aquém do ribeirão da ponte de pedra (rio das pedras nas cartas geog.); por ela segui. Passei o ribeirão na grande ponte natural, que parece ali colocada como para determinar o rumo dessa estrada, que necessariamente terá de mudar o estado de decadência, em que desgraçadamente tem cabido esta importante parte do império.

Continuando a minha viagem atravessei o rio Verde grande na ponte de Lázaro Borges; cortei as cabeceiras do rio Doce (Urubu), as do Paraíso, e em seguida o rio Claro a duas e meia léguas acima do lugar por onde passa a estrada, que deixei pouco depois de ter passado as cabeceiras do Paraíso.

(...)

Entrando outra vez na estrada, por ela segui; atravessei o rio Verde pequeno, descendo depois para a bacia do ribeirão da Babilônia, primeira e último vertente do Araguaia que atravessei depois de passar a cordilheira.

Infelizmente, no dia 6 de maio, dia em que deixei a Babilônia, estando a 455 quilômetros desta cidade, tive a desagradável notícia da tomada do Coxim, ponto do meu destino, por forças paraguaias, e como quisesse certificar-me bem dessa notícia continuei a avançar até a cabeceira-alta, a 538 quilômetros desta cidade. Estando bem confirmada essa inesperada notícia. Temendo um encontro com as forças inimigas, encontro que necessariamente se realizaria, caso continuassem elas as suas excursões, quer para cá, quer para S. Ana do Paranaíba, tomei por isso a deliberação de voltar.  

(...)

Continuando a picada, ora desviando para a direita, ora para esquerda, afim de evitar os terrenos pantanosos e procurar lugar de passagem nos ribeirões, cheguei a 2 de junho a margem direita do Rio Verde pequeno. Todas as vertentes que cortei ou são acompanhadas de pântanos em uma e outra margem, ou tem elas alcantiladas, sendo quase sempre formadas de xistos duros cortados verticalmente, ficando por isso os leitos delas em vales profundos, exigindo pontes de grande extensão.

No Rio Verde explorei um lugar para ponte, e no único que encontrei mais apropriado tem o rio suas margens baixas para conter o grande volume d’água que acarreta no tempo das cheias, de modo que elas saem a alguma distância fora do seu leito.

Continuei nos dias seguintes a explorar o terreno das vertentes que entram no Rio Verde pela margem esquerda. Como todas as outras são elas acompanhadas de pântanos, oferecendo poucos e maus lugares a escolher para colocação de pontes“.   – Escritos de  Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim. – 1º Tenente de Engenheiros encarregado da exploração da estrada do Coxim. Trechos extraídos do Correio Official, ano de 1866, edição nº 134, produzido na Tipografia Provincial na cidade de Goyaz. 

“POVOAÇÃO DO COXIM: Antes da entrada dos paraguaios não se constava no Coxim, na parte pertencente a esta província, mais que cinco casas, somente de negociantes;  na parte, porém, de Mato Grosso, a 4 km mais ou menos abaixo da confluência dos dois rios, existia uma pequena colônia, tendo de 13 a 20 casas, que foram completamente destruídas pelos paraguaios; é nesse ponto que hoje estão acampadas as forças que foram desta província.

Se não fosse o inesperado ataque do Coxim pelos paraguaios, hoje já ali existiria uma pequena povoação por quanto, constou-me que muitas famílias da província de Minas pretendiam mudar as suas residências para ali.

A criação de uma freguesia nossa no Coxim é uma necessidade urgentíssima, sem que o teremos de ver prosperar a povoação de Mato Grosso, reduzindo-se a um pequeno número de casas somente de negócio.  O local que no ângulo formado pelos dois rios presta-se bem para isso, fugindo os edifícios um pouco das beiras dos rios, que na estação chuvosa tornam-se alagadas.

O COXIM CONSIDERADO DEBAIXO DO PONTO DE VISTA MILITAR:  Os acontecimentos da guerra atual provam exuberantemente a importância com que se deve ter o Coxim como ponto estratégico. Por uma casualidade deixaram os paraguaios de continuar a por em execução o seu plano de campanha, que, quanto a mim, tomando eles o Coxim, não era outro que um ataque a cidade de Cuiabá, apossando-se ao mesmo tempo do porto de S. Ana do Paranaíba, supondo que deste último modo inutilizariam quaisquer forças que o governo imperial pretendesse fazer entrar para a província de Mato Grosso. Estou convencidíssimo que não tinham eles somente a pretensão de destruir a insignificante povoação que então existia no Coxim, quando o atacaram; por isso que para isso não eram necessários, segundo me constou, perto de dois mil homens, entrando nesse número não pequena porção de cavalaria. 

(...)

Deus guarde a V. Ex.ª. – Ilmo. e Exmo. Sr. dr.  Augusto Ferreira França, digníssimo presidente desta província.  _ Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim. – 1º Tenente de Engenheiros encarregado da exploração da estrada do Coxim”.  - Trechos extraídos do Correio Official, ano de 1866, edição nº 140. Feito na Tipografia Provincial na cidade de Goyaz.



No dia 8 de julho de 1865, o esquadrão de cavalaria de Goyaz, ao som da música marcial do batalhão de guardas nacionais desfilou pelas ruas da capital (Goyaz), recebendo do povo que agrupava-se pelas portas e janelas as mais entusiásticas saudações.  

Findo algumas formalidades, o esquadrão seguiu viagem, acampando em fazendas do caminho e realizando compras de mantimentos e milho para a cavalhada. No Correio Official, ano 1866, edição nº 126, extrai-se o seguinte:

“ (...). No dia 14 saiu às 9 horas da manhã; passou o rio dos Bois em uma ponte em sofrível estado, e chegou em Anicuns às 11 horas do dia.

As ruas desse arraial por onde tinha de passar o esquadrão estavam ornadas com 4 arcos de flores; de cada um deles pendia uma tabuleta em que se lia: 

Na 1ª - Viva S.M. o imperador.

      2ª - Viva a nação brasileira. 

      3ª - Viva o esquadrão de cavalaria.

      4ª - Viva os voluntários da pátria.  

A entrada do esquadrão foi anunciada pelos rojões de muitos foguetes que subiam ao ar da porta da igreja matriz, onde estavam reunidos os principais do lugar.

O major comandante postou a força no largo da mesma igreja; fez a continência devida, e retribuiu com iguais os  - vivas – que ao entrar recebera do subdelegado de polícia, dirigindo-se depois com a oficialidade à casa do vigário, onde foram obsequiados, e donde saiam, enfeitadas com odoríferas flores, bandejas de excelentes frutas que foram distribuídas pelas praças.

(...)

No dia 29 pelas 9 horas da manhã levantou-se o acampamento, e seguiu para a fazenda do Estreito pertencente a D. Inocência da Cunha, onde chegou as 3 horas da tarde com uma marcha de 5 léguas.

Durante a marcha apenas encontrou-se água no rio das Pedras, em cuja ponte passou-se meio quarto de légua distante do acampamento.  

Nesta fazenda sai a estrada do Rio Verde.

A estrada que o esquadrão ia seguindo a exceção de alguns declives mais ou menos sensíveis, como o que existe para chegar a ponte de pedra, é boa: ela estendendo seu leito sobre chapadões duros e plano, não oferece obstáculo algum ao trânsito.

No dia 30 o esquadrão foi ao Bomjardim, com uma marcha de 4 léguas, tendo saído às 10 horas da manhã e chegado às 3 horas da tarde.

Bomjardim é fazenda de Lazaro Antônio e está nas margens do Rio Verde, sobre o qual existe uma boa ponte feita a custa do fazendeiro.

A 31 pelas 10 horas da manhã seguiu o esquadrão para Montividio, fazenda de Joaquim Cardoso de Lima, acampando às 3 horas da tarde, tendo andado 4 léguas.

(...)

O esquadrão gastou de Goyaz até o Coxim 62 dias, a saber 15 de falhas e 47 de marcha, em que percorreu o espaço calculado pelos fazendeiros e por diversos práticos em 151 léguas.

(...) existem moradores que podem fornecer alguns gêneros ao depósito; mas que não o fazem por não lhes convir carregar um carro com 8 alqueires de farinha e etc.,  e entregando-os virem a capital receber na tesouraria a importância.

Esta parte já foi remediada pela Exma.ª presidência mandando por a disposição dos encarregados algum dinheiro para pagamento dos vendedores que não quiserem receber na tesouraria, os quais não serão poucos porque de ordinário os fazendeiros negam-se a aceitar transação de semelhante ordem.

Encontrei na fazenda das Flores a tropa de animais de Francisco de Assis; na fazenda de Joaquim Ourives com a do Amora. Além desta fazenda já havia encontrado dois carros do Rio Verde conduzindo farinha que da Uberaba tinha vindo destinada as forças de Minas.

As providências que a Exma.ª presidência está constantemente tomando tem produzido os melhores resultados; senão fossem elas as forças teriam sofrido as maiores privações, pois no município do Rio Verde donde com mais facilidade podiam ser supridas, a colheita do ano passado foi mais que escassa; isto é reconhecido pelas mesmas forças e por todos que bem dizem o nome do incansável administrador desta província, que está prestando ao país um serviço cuja importância só pode ser avaliada pelos que conhecem as dificuldades com que ele tem lutado.   

Concluo esta exposição declarando que a estrada daqui ao Coxim é abundante de caças, e que os rios Coxim e Taquary o são de peixes.

Goyaz, 15 de janeiro de 1866. – Joaquim Augusto Teixeira de Carvalho e Silva”.



Notadamente, no que se refere aos fornecimentos de gêneros alimentícios as forças expedicionárias no Mato Grosso, por esforço do governo da Província de Goiás e de particulares, tanto da capital como de todos os lugares ao sul da província, o governo recomendava sobre a necessidade de impulsionar o cultivo para não deixar faltar alimentos para remeter as tropas estacionadas no Coxim, que não só careciam de cereais como de grandes boiadas para o seu sustento, e pedia o cuidado para que os preços não sofresse ascensão.

De Rio Verde, era encarregado da compra e remessa, o capitão José Joaquim Leão - nascido em 1828, comendador, com projeção na vida sócio-política em Rio Verde, de uma das famílias mais antigas a pisar o solo rio-verdense.  No que tange a Vila de Dores do Rio Verde e também no que menciona as vertentes do rio Verde, apregoarei a seguir, trechos extraídos do Correio Official de Goyaz. (Periodicamente, a presidência publicava o seu expediente nesse jornal que era produzido na Tipografia Provincial).

 “- A José Joaquim Leão. Convém que V.S. me informe circunstancialmente a cerca da existência de viveres nesses lugares, declarando quais os que ainda podem ser obtidos para o depósito dos Baús e quais não. Entretanto, vá V.S. providenciando para que não cessem as remessas de gêneros alimentícios para ali.

Não é certamente em uma quadra tão calamitosa que se deve tirar proveito pecuniário pela venda mais elevada de um gênero que continue a base da alimentação dos bravos que, a custa de inúmeros sacrifícios, estão no Coxim para defender a nossa pátria e em particular esta e a província de Mato Grosso.

Faça ver aos fazendeiros a conveniência de plantarem mandioca e feijão, e fabricarem já toda farinha que poderem com aquela raiz tuberosa”.   



-“Ao inspetor da tesouraria. – Tendo chamado a serviço de destacamento o capitão da secção de batalhão da guarda nacional do município do Rio Verde José Joaquim Leão e tendo-o encarregado de naquele município promover a aquisição e remessa de viveres para as forças expedicionárias desta província e as de Minas e São Paulo, visto que esta presidência necessita ter nesse município um agente revestido de caráter oficial que desempenhe como convém tão importante comissão, assim o comunico a V.S. para que, por conta do ministério da guerra, mande abonar os vencimentos a que tem direito o referido oficial a contar do 1º do corrente mês”.  – Correio Official, nº 117, fevereiro de 1866.

-“Ilmo. e Exmo. Sr. – Neste momento acabo de receber o oficio de V. Exª de 15 de fevereiro último, e junto o ato nº 920 de 13 do mesmo mês que deu instruções aos agentes de compras de gêneros alimentícios para fornecimento as forças acampadas do Coxim.

No referido oficio V. Exª pondera-me que em consequência de ter aglomerado grandes forças no Coxim tem-se manifestado ali grandes faltas de viveres para sustento das mesmas e que espera que eu continue a coadjuvar a administração de V. Exª para socorrer aqueles defensores da pátria, com viveres.

Sempre ei certificar a V. Exª que tenho empenhado meus pequenos esforços para esse fim, e se não tenho satisfeito completamente as vistas de V. Exª é pelos motivos que sempre levo ao conhecimento de V. Exª, falta de viveres; de conduções, tem sido força maior, é inegável que não há falta grande porém agora já vai havendo, isto é de gado gordo e eirado, porém se houve falta deste gênero no Coxim não podem queixar-se de V. Exª e nem de mim pois como já comuniquei a V. Exª que quando aqui passou a força em 1 de novembro fui entender-me com o coronel Galvão a respeito da remessa de gados para o Coxim e ele disse-me que combinasse com o chefe da repartição fiscal o coronel Francisco Augusto da Silva e assim fiz, porém este chefe disse-me que sem chegar ao Coxim não podia fazer pedido de gados, e que de lá o faria; em fins de dezembro tornei a dirigir-me a ele no Coxim respondeu-me que demorasse com a remessa de gados, pois não havia ainda falta (documento que já enviei a V. Exª pelo Sr. João Pereira de Abreu) de gados, ora logo nos primeiros dias de janeiro deu-se a falta, não podia eu socorrer com gado logo, e só em fevereiro foi que o mesmo coronel fez o pedido de remessa de gados, depois do que trato de compras de gado e enviei 60 reses por Modesto Coelho de Moraes e trato de fazer sair maior número que a 15 dias está junto sem poder sair por causa das chuvas que tornaram os rios intransitáveis, saindo fora de seus leitos, e só espero baixar as águas para seguir essa boa boiada de 400 reses e já estou tratando de remeter outra, são as providências que com mais urgência pude dar.

Já seguiu de particulares 630 reses para o Coxim, além do gado que tem ido do depósito dos Baús, por isso que tem de ser suprida a falta que se deu.

Tem ido já daqui alguma farinha nova para o Coxim e muitos tratam de remeter, e eu estou comprando a que posso para enviar, já tenho alguma pronta, o arroz ainda não pode ser preparado por causa de chuvas, toucinho a falta, e pouco poderá ir, sal a falta porém contudo me parece que tem ido quantidade suficiente, e eu mandei vir de Minas 200 alqueires que por todo este mês chega e o que aqui aparecer compro.

O meu mal estado de saúde quase tirou-me da ação de serviço até a poucos dias, porém graças à Divina Providência vai sendo melhor, e se doente não deixei de fazer o que pude, melhor farei mais alguma coisa, pois os meus desejos tem sido prestar os meus serviços quando a pátria deles precisa, como nesta ocasião, e por isso fique V. Exª certo que não pouparei sacrifícios para senão de todo ao menos alguma coisa coadjuvar a V. Exª no empenho de que V. Exª se acha de satisfazer as vistas do governo imperial que tanto confia na sábia administração de V. Exª.

Deus guarde a V. Exª. – Rio Verde 2 de abril de 1866 – Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França M.D. presidente desta província de Goiás – José Joaquim Leão – Capitão comissário”. –  Extraído do Correio Official de Goyaz, de 19 de maio de 1866, nº 136.



-“Ilmo. e Exmo. Sr. – Comunico a V. Ex.ª. que no dia 8 do corrente remeti para o Coxim 372 reses boas para serem entregues ao Exmo. Sr. brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão, conforme as ordens de V. Ex.ª. esse gado foi contratado com Joaquim Valeriano da Silveira Leão, e João Antônio da Silveira para leva-lo ao Coxim, a preço de 30$000 cada rês, sendo todas as despesas de condução por conta dos mesmos, não pude contratar por menos preço, em razão da grande despesa que faz daqui ao Coxim, e o prejuízo certo dos animais da condução, pois a peste tem matado todos os animais que ali vão. (...)

Foi-me pedido pelo brigadeiro Galvão a remessa de sal, e como aqui não havia mandei vir de Minas, espero que chegue logo para remeter, porém não a falta por oras no Coxim deste gênero, se bem que caríssimo.

Deus guarde a V. Exª. – Rio Verde 12 de abril de 1866 – Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França, digno presidente desta província.  – José Joaquim Leão, capitão agente da presidência”. –  Extraído do Correio Official de Goyaz, de 19 de maio de 1866, nº 136.



-“Ilmo. e Exmo. Sr. – A dias que estou com uma boiada pronta para remeter diretamente para o Coxim e por causa das grandes chuvas que tem aparecido não tem podido seguir; os rios impedem passagem a tudo; é tamanha a enchente que tem estragado as pontes, e só espero que cesse a chuva para seguir.

Tendo grande necessidade de uma pessoa de confiança para dirigir a dita boiada, e não podendo obter por outra maneira, chamei a serviço o cabo de esquadra Francisco de Oliveira Pontes, para esse fim e espero que V. Ex. aprove este meu procedido, e que o mesmo cabo fique considerado em serviço a minha disposição para coadjuvar-me em compras e remessas de gados, por ser para esse fim suficiente.

Já acusei a V. Ex. o recebimento de 2:000$ réis que me foi entregue pelo Sr. João Pereira de Abreu, para ocorrer as despesas mais urgentes e aguardo-me para pedir a V. Ex. novo adiantamento de dinheiro quando remeter os documentos justificativos da quantia de 3:000$000 réis que anteriormente recebi; pois a falta de recibo de entrega de gêneros que ultimamente remeti e que ainda não fizesse remessa, pois a mais de 3 meses que foi ainda não voltou o condutor, porém tenho certeza que os gêneros foram entregues no Coxim no dia 21 de fevereiro.

Ainda estou contratando gados para remeter para o Coxim, porém se não puder conseguir remeter para aquele ponto remeterei para os Baús, a falta de animais para as conduções pode obstar a ida diretamente para o Coxim, pois a peste tem acabado com grande número de animais, e mesmo por aqui tem feito estragos. Temos esperanças de boas colheitas, e já tem ido alguma farinha nova para o Coxim. Vem de S. Rita do Paranaíba uns poucos de carros de mantimentos que vão para o Coxim, tenho encomendado farinha, e espero obter, e mesmo os roceiros estão ambiciosos em levar ao Coxim, e mesmo por essa forma tenho influído para levarem.

Deus guarde a V. Ex. – Rio Verde, 28 de abril de 1866. Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França, M.D. presidente desta província. – José Joaquim Leão, capitão comissário”.   -  Correio Official de Goyaz, de 19 de maio de 1866, nº 136. 



-“Ao dr. delegado de polícia do termo da capital. – Tendo Vm. de ir até a vila do Rio Verde, recomendo-lhe que examine em que estado se acham os objetos deixados ali pelo brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão em poder de Francisco Xavier de Campos Pires, os quais, falecendo o mesmo Pires, determinei que fossem arrecadados pelo capitão José Joaquim Leão e na sua falta pelo subdelegado; os faça inventariar, exigindo informações a respeito dos que já ali não existirem, e providencie para serem os existentes remetidos para as forças ou para aqui, como lhe parecer mais conveniente”.  Do Correio Official, nº 155, circulado em 6 de outubro de 1866.  

Nota sobre o Pires: Francisco Xavier de Campos Pires, oriundo da Província de São Paulo, exercia nessa época a função de presidente da câmara municipal do Rio Verde.  Aos 37 anos de idade, viúvo, casou-se em 8 de outubro de 1863 com Reduzina Malvina de Campos (Nininha) que tinha 12 anos. Filha de Ladislau Borges Campos.

Francisco Xavier faleceu em 10 de março de 1866 e Nininha, atacada de pneumonia, morreu em 21 de setembro de 1949 com 98 anos de idade. Nunca quis se casar, viveu viúva durante 83 anos. 



Em 6 de novembro de 1866, na edição de nº 159, o Correio Official noticiou: “Ao comandante em chefe das forças em operações ao sul da província de Mato Grosso remetendo por cópia, para seu conhecimento o ofício do capitão José Joaquim Leão, acerca dos diversos artigos bélicos deixados na Vila de Dores do Rio Verde pelo brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão. Ao mesmo, comunicando, para seu conhecimento, que participando o capitão José Joaquim Leão por ofício de 12 de setembro último, que no distrito de Dores do Rio Verde existem alguns animais pertencentes a nação, deixados pelas forças de São Paulo e Minas, nesta data determinou-se ao dito capitão que arrecade esses animais e lhes envie, ficando ele autorizado a exigi-los dos que os tiverem em seu poder”.



-“A Vicente Ferreira Ramos de Azevedo. – Constando-me que na fazenda de Lázaro Borges (Rio Verde) existe abandonado, desde junho por terem morridos os bois, um carro pertencente a Miguel Venâncio Xavier carregado de viveres, dali remetidos com destino às forças acampadas ao sul da província de Mato Grosso, e que não obstante os gêneros acham-se ainda em bom estado, recomendo-lhe que neste caso Vm.  providencie em ordem a que sem demora sejam eles conduzidos ao seu destino”. – Correio Official, de 1º de dezembro de 1866, nº 163.



1867 – “Em virtude do decreto nº 3.371 de 7 de janeiro de 1867, e das ordens do Governo Imperial, foi dirigido uma proclamação aos habitantes da província, e expedido ordens aos comandantes da guarda nacional para alistarem e remeterem para a capital todos os que se oferecessem e estivessem em circunstâncias de poder prestar serviço em tempo de guerra. Do Rio Verde foram 12 voluntários.  - Correio Official de Goyaz – Ano 1867/Edição 172. 



Não muito importante, más com o objetivo de tentar elucidar como se destacava algum setor da infantaria em 1869, vamos a este trecho do Correio Official: “Foi nomeado o guarda Américo Olympio de Paula, alfares da 3ª Companhia da 3ª Secção do Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional do município de Dores do Rio Verde”.



1870 – “O nosso ministro residente naquela capital, recebeu do Sr. Conselheiro Paranhos o seguinte telegrama, expedido de Assunção em 5 do corrente: “As forças brasileiras comandadas pelo general Câmara; obtiveram mais um importante resultado ao norte do Jejuy. O major Martins derrotou uma força inimiga que achava-se em Pacuaty e tentava fugir. Fizemos 120 prisioneiros, entrando neste número três oficiais; tomamos 200 cavalos e 100 bois. Resgatamos mais de 500 famílias, que por ordem de Lopez seguiam para o rio Verde. Não sofremos a menor perda neste encontro”.  - Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição 298. 



MORTE DE LOPEZ

1870 – “Parte oficial do general Câmara ao general Victorino. Acampamento a esquerda do Aquidaban, 1º de março de 1870 – Ilmo. e Exmo. Sr. – Escrevo a V. Ex. do acampamento de Lopez, no meio da serra.

O tirano foi derrotado, e não querendo entregar-se foi morto a minha vista. Intimei-lhe ordem de render-se quando já estava completamente derrotado, e gravemente ferido, e não querendo foi morto.

Dou as palavras a V. Ex. pela terminação da guerra. O general Resquin e outros chefes estão presos.

Deus guarde a V. Ex. – Ilmo. e Exmo. Sr.  marechal  de campos Victorino José Carneiro Monteiro, comandante das forças ao norte do Manduvirá. O brigadeiro, José Antônio Corrêa da Câmara. - Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição 314.   



1870 – “Assunção 5 de março de 1870. Hoje ao amanhecer recebemos notícias da morte do tirano Lopez em Cerrocará, onde foi alcançado pelas forças brasileiras que iam em sua perseguição.

Viva a república do Paraguai! Vivam os aliados! Vivam os vencedores do tirano!

Por carta escrita a lápis, do general Câmara ao general Victorino, vem a seguinte e inesperada notícia que Lopez foi alcançado pelas forças brasileiras do general Câmara, sobre a margem esquerda do Aquidaban, no dia 1º de março de 1870: foi ferido no combate não quis render-se, foi morto no mesmo combate.

A mãe, suas irmãs e vários chefes, entre os quais o general Resquin caíram em nosso poder. O general Cabalero estava em outro ponto, e contra ele havia marchado uma força de cavalaria.

Madame Linch se havia escondido nos montes e no momento de dar-se esta notícia, que havia partido imediatamente depois daquele importante caso, não havia sido encontrada.

Ao concluir esta notícia se transporta de prazer o nosso coração; e não temos neste momento frases que bem expressem nossa alegria em nome da Nação Paraguaia e das armas aliadas, ao Supremo Senhor dos Exércitos que tanto há protegido a causa santa da civilização e liberdade.

Lopez está morto, e é para nós um sonho. Agora sim está terminada a guerra: está completamente satisfeito o tratado da tríplice aliança. Este homem que há matado uma nação acaba de render-se a fatalidade sujeitando-se com todos os tiranos, a lei imperiosa da morte.

O Nero da América do Sul não sucumbiu como Theodoro d’Abissínia, porém foram cortados seus dias em um combate franco e leal. Por um tirano que morre, nasce a maior e mais bela esperança para o porvir de uma nação quase morta por ele.

Glória ao general Câmara; a quem há cabido a felicidade de fechar com a chave de ouro o estado de luta gloriosamente sustentada.  Glória a S. Alteza o Sr. Conde d’Eu, cuja tenacidade a inspirado e estimulado a persistência e constância do general Câmara.

Vivam as armas aliadas! Viva a Nação Paraguaia!

Últimas notícias chegadas na vila da Conceição a 7 de março de 1870. Além de Lopez, morreram o filho mais velho do mesmo com Madame Linch, e um outro de dez anos de idade com Joanne Pessôa, o vice-presidente Sanches, o ministro Gamino, coronel Aguiar, e majores Vargas, Acenas, Esti, Cardoso e Salles.

Lopez morreu de uma bala na testa e uma lançada no peito, e o seu cavalo atolado conjuntamente com ele na beira de um rio. O restante de sua gente foi toda passada a fio de espada.

A mãe, irmãs e Venâncio, irmão do tirano, foram salvos das garras do monstro.

Lopez foi morto pelo cabo de cavalaria, conhecido por Chico Diabo: atravessou-lhe o peito com a lança, e o tigre acabou o seu reinado bárbaro e sem igual.

Cabalero com outros e Madame Linch fugiram para os matos e hoje devem estar em nosso poder”.   - Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição 314. - Por: Aires Humberto Freitas




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