Por: Aires Humberto Freitas
A guerra que o tirano do Paraguai
Francisco Solano López começou contra o Brasil quando em 12 de novembro de 1864
mandou apreender o navio brasileiro Marquês de Olinda com sua tripulação que
atravessava o território paraguaio em direção a Mato Grosso; e levava a bordo o
Coronel Frederico Carneiro de Campos que tomaria posse do cargo de Presidente
da Província de Mato Grosso, foi desencadeada, ainda mais, com a posterior invasão
armada dos paraguaios, atacando o Forte de Coimbra. A conhecida Guerra do
Paraguai (1864 a 1870) foi um horripilante conflito sangrento com perca de
vidas dos dois lados, com batalhas, fome e doenças. Quase aniquilou a população
adulta do Paraguai e findou com a morte do comandante Solano López em 1º de
março de 1870.
Foi confeccionado uma planta da
estrada por onde deveria seguir a cavalaria em direção ao Coxim, tendo ela
servido para determinar possíveis informações a respeito dos terrenos, rios, e
principalmente estudar o rumo da serra geral (serra do Caiapó). Vejamos alguns trechos, especificamente
relacionando aos rios Verdão e Verdinho:
“Procurei seguir um outro rumo,
onde encontrasse melhor terreno e avizinhasse mais a estrada dos importantes
distritos de Morrinhos, Campininhas, Abóboras, Jataí, Rio Bonito, etc. É bem conhecida a importância dessa parte da
província relativamente as indústrias agrícola e criadora, e o desenvolvimento
do seu comércio com o porto do Coxim; pois, quase a totalidade dos gêneros
importados por esse ponto para a província fica espalhada por esses lugares.
(...)
Do alto da serra do Rio Claro
segui a encontrar a estrada que desta capital segue para o Coxim. Nessa viagem
atravessei as mais altas vertentes do Rio Claro, seguindo-se a serra geral,
passando depois para as águas do Rio Verde grande, afluente do Paranaíba. A
estrada faz algumas voltas inevitáveis, passando em geral por bom terreno.
Encontrando a estrada que desta
capital segue para a campanha do Rio Verde, passando por Anicuns, a 1,5
quilômetros aquém do ribeirão da ponte de pedra (rio das pedras nas cartas
geog.); por ela segui. Passei o ribeirão na grande ponte natural, que parece
ali colocada como para determinar o rumo dessa estrada, que necessariamente
terá de mudar o estado de decadência, em que desgraçadamente tem cabido esta
importante parte do império.
Continuando a minha viagem
atravessei o rio Verde grande na ponte de Lázaro Borges; cortei as cabeceiras
do rio Doce (Urubu), as do Paraíso, e em seguida o rio Claro a duas e meia
léguas acima do lugar por onde passa a estrada, que deixei pouco depois de ter
passado as cabeceiras do Paraíso.
(...)
Entrando outra vez na estrada,
por ela segui; atravessei o rio Verde pequeno, descendo depois para a bacia do
ribeirão da Babilônia, primeira e último vertente do Araguaia que atravessei
depois de passar a cordilheira.
Infelizmente, no dia 6 de maio,
dia em que deixei a Babilônia, estando a 455 quilômetros desta cidade, tive a
desagradável notícia da tomada do Coxim, ponto do meu destino, por forças
paraguaias, e como quisesse certificar-me bem dessa notícia continuei a avançar
até a cabeceira-alta, a 538 quilômetros desta cidade. Estando bem confirmada
essa inesperada notícia. Temendo um encontro com as forças inimigas, encontro
que necessariamente se realizaria, caso continuassem elas as suas excursões,
quer para cá, quer para S. Ana do Paranaíba, tomei por isso a deliberação de
voltar.
(...)
Continuando a picada, ora
desviando para a direita, ora para esquerda, afim de evitar os terrenos
pantanosos e procurar lugar de passagem nos ribeirões, cheguei a 2 de junho a
margem direita do Rio Verde pequeno. Todas as vertentes que cortei ou são
acompanhadas de pântanos em uma e outra margem, ou tem elas alcantiladas, sendo
quase sempre formadas de xistos duros cortados verticalmente, ficando por isso
os leitos delas em vales profundos, exigindo pontes de grande extensão.
No Rio Verde explorei um lugar
para ponte, e no único que encontrei mais apropriado tem o rio suas margens baixas
para conter o grande volume d’água que acarreta no tempo das cheias, de modo
que elas saem a alguma distância fora do seu leito.
Continuei nos dias seguintes a
explorar o terreno das vertentes que entram no Rio Verde pela margem esquerda.
Como todas as outras são elas acompanhadas de pântanos, oferecendo poucos e
maus lugares a escolher para colocação de pontes“. – Escritos de Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim. – 1º Tenente
de Engenheiros encarregado da exploração da estrada do Coxim. Trechos extraídos
do Correio Official, ano de 1866, edição nº 134, produzido na Tipografia
Provincial na cidade de Goyaz.
“POVOAÇÃO DO COXIM: Antes da
entrada dos paraguaios não se constava no Coxim, na parte pertencente a esta
província, mais que cinco casas, somente de negociantes; na parte, porém, de Mato Grosso, a 4 km mais
ou menos abaixo da confluência dos dois rios, existia uma pequena colônia,
tendo de 13 a 20 casas, que foram completamente destruídas pelos paraguaios; é
nesse ponto que hoje estão acampadas as forças que foram desta província.
Se não fosse o inesperado ataque
do Coxim pelos paraguaios, hoje já ali existiria uma pequena povoação por
quanto, constou-me que muitas famílias da província de Minas pretendiam mudar
as suas residências para ali.
A criação de uma freguesia nossa
no Coxim é uma necessidade urgentíssima, sem que o teremos de ver prosperar a
povoação de Mato Grosso, reduzindo-se a um pequeno número de casas somente de
negócio. O local que no ângulo formado
pelos dois rios presta-se bem para isso, fugindo os edifícios um pouco das
beiras dos rios, que na estação chuvosa tornam-se alagadas.
O COXIM CONSIDERADO DEBAIXO DO
PONTO DE VISTA MILITAR: Os
acontecimentos da guerra atual provam exuberantemente a importância com que se
deve ter o Coxim como ponto estratégico. Por uma casualidade deixaram os
paraguaios de continuar a por em execução o seu plano de campanha, que, quanto
a mim, tomando eles o Coxim, não era outro que um ataque a cidade de Cuiabá,
apossando-se ao mesmo tempo do porto de S. Ana do Paranaíba, supondo que deste
último modo inutilizariam quaisquer forças que o governo imperial pretendesse
fazer entrar para a província de Mato Grosso. Estou convencidíssimo que não
tinham eles somente a pretensão de destruir a insignificante povoação que então
existia no Coxim, quando o atacaram; por isso que para isso não eram
necessários, segundo me constou, perto de dois mil homens, entrando nesse
número não pequena porção de cavalaria.
(...)
Deus guarde a V. Ex.ª. – Ilmo. e
Exmo. Sr. dr. Augusto Ferreira França,
digníssimo presidente desta província. _
Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim. – 1º Tenente de Engenheiros encarregado da
exploração da estrada do Coxim”. -
Trechos extraídos do Correio Official, ano de 1866, edição nº 140. Feito na
Tipografia Provincial na cidade de Goyaz.
No dia 8 de julho de 1865, o
esquadrão de cavalaria de Goyaz, ao som da música marcial do batalhão de
guardas nacionais desfilou pelas ruas da capital (Goyaz), recebendo do povo que
agrupava-se pelas portas e janelas as mais entusiásticas saudações.
Findo algumas formalidades, o
esquadrão seguiu viagem, acampando em fazendas do caminho e realizando compras
de mantimentos e milho para a cavalhada. No Correio Official, ano 1866, edição
nº 126, extrai-se o seguinte:
“ (...). No dia 14 saiu às 9
horas da manhã; passou o rio dos Bois em uma ponte em sofrível estado, e chegou
em Anicuns às 11 horas do dia.
As ruas desse arraial por onde
tinha de passar o esquadrão estavam ornadas com 4 arcos de flores; de cada um
deles pendia uma tabuleta em que se lia:
Na 1ª - Viva S.M. o imperador.
2ª - Viva a nação brasileira.
3ª - Viva o esquadrão de cavalaria.
4ª - Viva os voluntários da pátria.
A entrada do esquadrão foi
anunciada pelos rojões de muitos foguetes que subiam ao ar da porta da igreja
matriz, onde estavam reunidos os principais do lugar.
O major comandante postou a força
no largo da mesma igreja; fez a continência devida, e retribuiu com iguais
os - vivas – que ao entrar recebera do subdelegado
de polícia, dirigindo-se depois com a oficialidade à casa do vigário, onde
foram obsequiados, e donde saiam, enfeitadas com odoríferas flores, bandejas de
excelentes frutas que foram distribuídas pelas praças.
(...)
No dia 29 pelas 9 horas da manhã
levantou-se o acampamento, e seguiu para a fazenda do Estreito pertencente a D.
Inocência da Cunha, onde chegou as 3 horas da tarde com uma marcha de 5 léguas.
Durante a marcha apenas
encontrou-se água no rio das Pedras, em cuja ponte passou-se meio quarto de
légua distante do acampamento.
Nesta fazenda sai a estrada do
Rio Verde.
A estrada que o esquadrão ia
seguindo a exceção de alguns declives mais ou menos sensíveis, como o que
existe para chegar a ponte de pedra, é boa: ela estendendo seu leito sobre
chapadões duros e plano, não oferece obstáculo algum ao trânsito.
No dia 30 o esquadrão foi ao
Bomjardim, com uma marcha de 4 léguas, tendo saído às 10 horas da manhã e
chegado às 3 horas da tarde.
Bomjardim é fazenda de Lazaro
Antônio e está nas margens do Rio Verde, sobre o qual existe uma boa ponte
feita a custa do fazendeiro.
A 31 pelas 10 horas da manhã
seguiu o esquadrão para Montividio, fazenda de Joaquim Cardoso de Lima,
acampando às 3 horas da tarde, tendo andado 4 léguas.
(...)
O esquadrão gastou de Goyaz até o
Coxim 62 dias, a saber 15 de falhas e 47 de marcha, em que percorreu o espaço
calculado pelos fazendeiros e por diversos práticos em 151 léguas.
(...) existem moradores que podem
fornecer alguns gêneros ao depósito; mas que não o fazem por não lhes convir
carregar um carro com 8 alqueires de farinha e etc., e entregando-os virem a capital receber na
tesouraria a importância.
Esta parte já foi remediada pela
Exma.ª presidência mandando por a disposição dos encarregados algum dinheiro
para pagamento dos vendedores que não quiserem receber na tesouraria, os quais
não serão poucos porque de ordinário os fazendeiros negam-se a aceitar
transação de semelhante ordem.
Encontrei na fazenda das Flores a
tropa de animais de Francisco de Assis; na fazenda de Joaquim Ourives com a do
Amora. Além desta fazenda já havia encontrado dois carros do Rio Verde
conduzindo farinha que da Uberaba tinha vindo destinada as forças de Minas.
As providências que a Exma.ª
presidência está constantemente tomando tem produzido os melhores resultados;
senão fossem elas as forças teriam sofrido as maiores privações, pois no
município do Rio Verde donde com mais facilidade podiam ser supridas, a
colheita do ano passado foi mais que escassa; isto é reconhecido pelas mesmas
forças e por todos que bem dizem o nome do incansável administrador desta
província, que está prestando ao país um serviço cuja importância só pode ser
avaliada pelos que conhecem as dificuldades com que ele tem lutado.
Concluo esta exposição declarando
que a estrada daqui ao Coxim é abundante de caças, e que os rios Coxim e
Taquary o são de peixes.
Goyaz, 15 de janeiro de 1866. –
Joaquim Augusto Teixeira de Carvalho e Silva”.
Notadamente, no que se refere aos
fornecimentos de gêneros alimentícios as forças expedicionárias no Mato Grosso,
por esforço do governo da Província de Goiás e de particulares, tanto da
capital como de todos os lugares ao sul da província, o governo recomendava
sobre a necessidade de impulsionar o cultivo para não deixar faltar alimentos
para remeter as tropas estacionadas no Coxim, que não só careciam de cereais
como de grandes boiadas para o seu sustento, e pedia o cuidado para que os
preços não sofresse ascensão.
De Rio Verde, era encarregado da
compra e remessa, o capitão José Joaquim Leão - nascido em 1828, comendador,
com projeção na vida sócio-política em Rio Verde, de uma das famílias mais
antigas a pisar o solo rio-verdense. No
que tange a Vila de Dores do Rio Verde e também no que menciona as vertentes do
rio Verde, apregoarei a seguir, trechos extraídos do Correio Official de Goyaz.
(Periodicamente, a presidência publicava o seu expediente nesse jornal que era
produzido na Tipografia Provincial).
“- A José Joaquim Leão. Convém que V.S. me
informe circunstancialmente a cerca da existência de viveres nesses lugares,
declarando quais os que ainda podem ser obtidos para o depósito dos Baús e
quais não. Entretanto, vá V.S. providenciando para que não cessem as remessas
de gêneros alimentícios para ali.
Não é certamente em uma quadra
tão calamitosa que se deve tirar proveito pecuniário pela venda mais elevada de
um gênero que continue a base da alimentação dos bravos que, a custa de
inúmeros sacrifícios, estão no Coxim para defender a nossa pátria e em
particular esta e a província de Mato Grosso.
Faça ver aos fazendeiros a
conveniência de plantarem mandioca e feijão, e fabricarem já toda farinha que
poderem com aquela raiz tuberosa”.
-“Ao inspetor da tesouraria. –
Tendo chamado a serviço de destacamento o capitão da secção de batalhão da
guarda nacional do município do Rio Verde José Joaquim Leão e tendo-o
encarregado de naquele município promover a aquisição e remessa de viveres para
as forças expedicionárias desta província e as de Minas e São Paulo, visto que
esta presidência necessita ter nesse município um agente revestido de caráter
oficial que desempenhe como convém tão importante comissão, assim o comunico a
V.S. para que, por conta do ministério da guerra, mande abonar os vencimentos a
que tem direito o referido oficial a contar do 1º do corrente mês”. – Correio Official, nº 117, fevereiro de
1866.
-“Ilmo. e Exmo. Sr. – Neste
momento acabo de receber o oficio de V. Exª de 15 de fevereiro último, e junto
o ato nº 920 de 13 do mesmo mês que deu instruções aos agentes de compras de
gêneros alimentícios para fornecimento as forças acampadas do Coxim.
No referido oficio V. Exª
pondera-me que em consequência de ter aglomerado grandes forças no Coxim tem-se
manifestado ali grandes faltas de viveres para sustento das mesmas e que espera
que eu continue a coadjuvar a administração de V. Exª para socorrer aqueles
defensores da pátria, com viveres.
Sempre ei certificar a V. Exª que
tenho empenhado meus pequenos esforços para esse fim, e se não tenho satisfeito
completamente as vistas de V. Exª é pelos motivos que sempre levo ao
conhecimento de V. Exª, falta de viveres; de conduções, tem sido força maior, é
inegável que não há falta grande porém agora já vai havendo, isto é de gado
gordo e eirado, porém se houve falta deste gênero no Coxim não podem queixar-se
de V. Exª e nem de mim pois como já comuniquei a V. Exª que quando aqui passou
a força em 1 de novembro fui entender-me com o coronel Galvão a respeito da
remessa de gados para o Coxim e ele disse-me que combinasse com o chefe da
repartição fiscal o coronel Francisco Augusto da Silva e assim fiz, porém este
chefe disse-me que sem chegar ao Coxim não podia fazer pedido de gados, e que
de lá o faria; em fins de dezembro tornei a dirigir-me a ele no Coxim
respondeu-me que demorasse com a remessa de gados, pois não havia ainda falta (documento
que já enviei a V. Exª pelo Sr. João Pereira de Abreu) de gados, ora logo nos
primeiros dias de janeiro deu-se a falta, não podia eu socorrer com gado logo,
e só em fevereiro foi que o mesmo coronel fez o pedido de remessa de gados,
depois do que trato de compras de gado e enviei 60 reses por Modesto Coelho de
Moraes e trato de fazer sair maior número que a 15 dias está junto sem poder
sair por causa das chuvas que tornaram os rios intransitáveis, saindo fora de
seus leitos, e só espero baixar as águas para seguir essa boa boiada de 400
reses e já estou tratando de remeter outra, são as providências que com mais
urgência pude dar.
Já seguiu de particulares 630
reses para o Coxim, além do gado que tem ido do depósito dos Baús, por isso que
tem de ser suprida a falta que se deu.
Tem ido já daqui alguma farinha
nova para o Coxim e muitos tratam de remeter, e eu estou comprando a que posso
para enviar, já tenho alguma pronta, o arroz ainda não pode ser preparado por
causa de chuvas, toucinho a falta, e pouco poderá ir, sal a falta porém contudo
me parece que tem ido quantidade suficiente, e eu mandei vir de Minas 200
alqueires que por todo este mês chega e o que aqui aparecer compro.
O meu mal estado de saúde quase
tirou-me da ação de serviço até a poucos dias, porém graças à Divina
Providência vai sendo melhor, e se doente não deixei de fazer o que pude,
melhor farei mais alguma coisa, pois os meus desejos tem sido prestar os meus
serviços quando a pátria deles precisa, como nesta ocasião, e por isso fique V.
Exª certo que não pouparei sacrifícios para senão de todo ao menos alguma coisa
coadjuvar a V. Exª no empenho de que V. Exª se acha de satisfazer as vistas do
governo imperial que tanto confia na sábia administração de V. Exª.
Deus guarde a V. Exª. – Rio Verde
2 de abril de 1866 – Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França M.D.
presidente desta província de Goiás – José Joaquim Leão – Capitão comissário”. – Extraído do Correio Official de Goyaz, de 19
de maio de 1866, nº 136.
-“Ilmo. e Exmo. Sr. – Comunico a
V. Ex.ª. que no dia 8 do corrente remeti para o Coxim 372 reses boas para serem
entregues ao Exmo. Sr. brigadeiro José Antônio da Fonseca Galvão, conforme as
ordens de V. Ex.ª. esse gado foi contratado com Joaquim Valeriano da Silveira
Leão, e João Antônio da Silveira para leva-lo ao Coxim, a preço de 30$000 cada
rês, sendo todas as despesas de condução por conta dos mesmos, não pude
contratar por menos preço, em razão da grande despesa que faz daqui ao Coxim, e
o prejuízo certo dos animais da condução, pois a peste tem matado todos os
animais que ali vão. (...)
Foi-me pedido pelo brigadeiro
Galvão a remessa de sal, e como aqui não havia mandei vir de Minas, espero que
chegue logo para remeter, porém não a falta por oras no Coxim deste gênero, se
bem que caríssimo.
Deus guarde a V. Exª. – Rio Verde
12 de abril de 1866 – Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França, digno
presidente desta província. – José
Joaquim Leão, capitão agente da presidência”. – Extraído do Correio Official de Goyaz, de 19
de maio de 1866, nº 136.
-“Ilmo. e Exmo. Sr. – A dias que
estou com uma boiada pronta para remeter diretamente para o Coxim e por causa
das grandes chuvas que tem aparecido não tem podido seguir; os rios impedem
passagem a tudo; é tamanha a enchente que tem estragado as pontes, e só espero
que cesse a chuva para seguir.
Tendo grande necessidade de uma
pessoa de confiança para dirigir a dita boiada, e não podendo obter por outra
maneira, chamei a serviço o cabo de esquadra Francisco de Oliveira Pontes, para
esse fim e espero que V. Ex. aprove este meu procedido, e que o mesmo cabo fique
considerado em serviço a minha disposição para coadjuvar-me em compras e
remessas de gados, por ser para esse fim suficiente.
Já acusei a V. Ex. o recebimento
de 2:000$ réis que me foi entregue pelo Sr. João Pereira de Abreu, para ocorrer
as despesas mais urgentes e aguardo-me para pedir a V. Ex. novo adiantamento de
dinheiro quando remeter os documentos justificativos da quantia de 3:000$000
réis que anteriormente recebi; pois a falta de recibo de entrega de gêneros que
ultimamente remeti e que ainda não fizesse remessa, pois a mais de 3 meses que
foi ainda não voltou o condutor, porém tenho certeza que os gêneros foram
entregues no Coxim no dia 21 de fevereiro.
Ainda estou contratando gados
para remeter para o Coxim, porém se não puder conseguir remeter para aquele
ponto remeterei para os Baús, a falta de animais para as conduções pode obstar
a ida diretamente para o Coxim, pois a peste tem acabado com grande número de
animais, e mesmo por aqui tem feito estragos. Temos esperanças de boas
colheitas, e já tem ido alguma farinha nova para o Coxim. Vem de S. Rita do
Paranaíba uns poucos de carros de mantimentos que vão para o Coxim, tenho
encomendado farinha, e espero obter, e mesmo os roceiros estão ambiciosos em
levar ao Coxim, e mesmo por essa forma tenho influído para levarem.
Deus guarde a V. Ex. – Rio Verde,
28 de abril de 1866. Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Augusto Ferreira França, M.D.
presidente desta província. – José Joaquim Leão, capitão comissário”. -
Correio Official de Goyaz, de 19 de maio de 1866, nº 136.
-“Ao dr. delegado de polícia do
termo da capital. – Tendo Vm. de ir até a vila do Rio Verde, recomendo-lhe que
examine em que estado se acham os objetos deixados ali pelo brigadeiro José
Antônio da Fonseca Galvão em poder de Francisco Xavier de Campos Pires, os
quais, falecendo o mesmo Pires, determinei que fossem arrecadados pelo capitão
José Joaquim Leão e na sua falta pelo subdelegado; os faça inventariar,
exigindo informações a respeito dos que já ali não existirem, e providencie
para serem os existentes remetidos para as forças ou para aqui, como lhe
parecer mais conveniente”. Do Correio
Official, nº 155, circulado em 6 de outubro de 1866.
Nota sobre o Pires: Francisco
Xavier de Campos Pires, oriundo da Província de São Paulo, exercia nessa época
a função de presidente da câmara municipal do Rio Verde. Aos 37 anos de idade, viúvo, casou-se em 8 de
outubro de 1863 com Reduzina Malvina de Campos (Nininha) que tinha 12 anos.
Filha de Ladislau Borges Campos.
Francisco Xavier faleceu em 10 de
março de 1866 e Nininha, atacada de pneumonia, morreu em 21 de setembro de 1949
com 98 anos de idade. Nunca quis se casar, viveu viúva durante 83 anos.
Em 6 de novembro de 1866, na
edição de nº 159, o Correio Official noticiou: “Ao comandante em chefe das
forças em operações ao sul da província de Mato Grosso remetendo por cópia,
para seu conhecimento o ofício do capitão José Joaquim Leão, acerca dos
diversos artigos bélicos deixados na Vila de Dores do Rio Verde pelo brigadeiro
José Antônio da Fonseca Galvão. Ao mesmo, comunicando, para seu conhecimento,
que participando o capitão José Joaquim Leão por ofício de 12 de setembro
último, que no distrito de Dores do Rio Verde existem alguns animais
pertencentes a nação, deixados pelas forças de São Paulo e Minas, nesta data
determinou-se ao dito capitão que arrecade esses animais e lhes envie, ficando
ele autorizado a exigi-los dos que os tiverem em seu poder”.
-“A Vicente Ferreira Ramos de
Azevedo. – Constando-me que na fazenda de Lázaro Borges (Rio Verde) existe
abandonado, desde junho por terem morridos os bois, um carro pertencente a
Miguel Venâncio Xavier carregado de viveres, dali remetidos com destino às
forças acampadas ao sul da província de Mato Grosso, e que não obstante os
gêneros acham-se ainda em bom estado, recomendo-lhe que neste caso Vm. providencie em ordem a que sem demora sejam
eles conduzidos ao seu destino”. – Correio Official, de 1º de dezembro de 1866,
nº 163.
1867 – “Em virtude do decreto nº
3.371 de 7 de janeiro de 1867, e das ordens do Governo Imperial, foi dirigido
uma proclamação aos habitantes da província, e expedido ordens aos comandantes
da guarda nacional para alistarem e remeterem para a capital todos os que se
oferecessem e estivessem em circunstâncias de poder prestar serviço em tempo de
guerra. Do Rio Verde foram 12 voluntários.
- Correio Official de Goyaz – Ano 1867/Edição 172.
Não muito importante, más com o
objetivo de tentar elucidar como se destacava algum setor da infantaria em
1869, vamos a este trecho do Correio Official: “Foi nomeado o guarda Américo
Olympio de Paula, alfares da 3ª Companhia da 3ª Secção do Batalhão de
Infantaria da Guarda Nacional do município de Dores do Rio Verde”.
1870 – “O nosso ministro
residente naquela capital, recebeu do Sr. Conselheiro Paranhos o seguinte
telegrama, expedido de Assunção em 5 do corrente: “As forças brasileiras
comandadas pelo general Câmara; obtiveram mais um importante resultado ao norte
do Jejuy. O major Martins derrotou uma força inimiga que achava-se em Pacuaty e
tentava fugir. Fizemos 120 prisioneiros, entrando neste número três oficiais;
tomamos 200 cavalos e 100 bois. Resgatamos mais de 500 famílias, que por ordem
de Lopez seguiam para o rio Verde. Não sofremos a menor perda neste encontro”. - Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição
298.
MORTE DE LOPEZ
1870 – “Parte oficial do general
Câmara ao general Victorino. Acampamento a esquerda do Aquidaban, 1º de março
de 1870 – Ilmo. e Exmo. Sr. – Escrevo a V. Ex. do acampamento de Lopez, no meio
da serra.
O tirano foi derrotado, e não
querendo entregar-se foi morto a minha vista. Intimei-lhe ordem de render-se
quando já estava completamente derrotado, e gravemente ferido, e não querendo
foi morto.
Dou as palavras a V. Ex. pela
terminação da guerra. O general Resquin e outros chefes estão presos.
Deus guarde a V. Ex. – Ilmo. e
Exmo. Sr. marechal de campos Victorino José Carneiro Monteiro,
comandante das forças ao norte do Manduvirá. O brigadeiro, José Antônio Corrêa
da Câmara. - Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição 314.
1870 – “Assunção 5 de março de
1870. Hoje ao amanhecer recebemos notícias da morte do tirano Lopez em
Cerrocará, onde foi alcançado pelas forças brasileiras que iam em sua
perseguição.
Viva a república do Paraguai!
Vivam os aliados! Vivam os vencedores do tirano!
Por carta escrita a lápis, do
general Câmara ao general Victorino, vem a seguinte e inesperada notícia que
Lopez foi alcançado pelas forças brasileiras do general Câmara, sobre a margem
esquerda do Aquidaban, no dia 1º de março de 1870: foi ferido no combate não
quis render-se, foi morto no mesmo combate.
A mãe, suas irmãs e vários
chefes, entre os quais o general Resquin caíram em nosso poder. O general
Cabalero estava em outro ponto, e contra ele havia marchado uma força de
cavalaria.
Madame Linch se havia escondido
nos montes e no momento de dar-se esta notícia, que havia partido imediatamente
depois daquele importante caso, não havia sido encontrada.
Ao concluir esta notícia se
transporta de prazer o nosso coração; e não temos neste momento frases que bem
expressem nossa alegria em nome da Nação Paraguaia e das armas aliadas, ao
Supremo Senhor dos Exércitos que tanto há protegido a causa santa da
civilização e liberdade.
Lopez está morto, e é para nós um
sonho. Agora sim está terminada a guerra: está completamente satisfeito o
tratado da tríplice aliança. Este homem que há matado uma nação acaba de render-se
a fatalidade sujeitando-se com todos os tiranos, a lei imperiosa da morte.
O Nero da América do Sul não
sucumbiu como Theodoro d’Abissínia, porém foram cortados seus dias em um
combate franco e leal. Por um tirano que morre, nasce a maior e mais bela
esperança para o porvir de uma nação quase morta por ele.
Glória ao general Câmara; a quem
há cabido a felicidade de fechar com a chave de ouro o estado de luta
gloriosamente sustentada. Glória a S.
Alteza o Sr. Conde d’Eu, cuja tenacidade a inspirado e estimulado a
persistência e constância do general Câmara.
Vivam as armas aliadas! Viva a
Nação Paraguaia!
Últimas notícias chegadas na vila
da Conceição a 7 de março de 1870. Além de Lopez, morreram o filho mais velho
do mesmo com Madame Linch, e um outro de dez anos de idade com Joanne Pessôa, o
vice-presidente Sanches, o ministro Gamino, coronel Aguiar, e majores Vargas,
Acenas, Esti, Cardoso e Salles.
Lopez morreu de uma bala na testa
e uma lançada no peito, e o seu cavalo atolado conjuntamente com ele na beira
de um rio. O restante de sua gente foi toda passada a fio de espada.
A mãe, irmãs e Venâncio, irmão do
tirano, foram salvos das garras do monstro.
Lopez foi morto pelo cabo de
cavalaria, conhecido por Chico Diabo: atravessou-lhe o peito com a lança, e o
tigre acabou o seu reinado bárbaro e sem igual.
Cabalero com outros e Madame
Linch fugiram para os matos e hoje devem estar em nosso poder”. -
Correio Official de Goyaz – Ano 1870/Edição 314. - Por: Aires Humberto Freitas